(Resenha) #18 A Hora do Diabo e Outros Contos

Fernando Pessoa
A Hora do Diabo e Outros Contos
Editora Bestiário
Contos

"-É a lei da vida, minha senhora. O corpo vive porque se desintegra, sem se desintegrar demais. Se não se desintegrasse segundo a segundo, seria um mineral. A alma vive porque é perpetuamente tentada, ainda que resista. Tudo vive porque se põe a qualquer coisa. Eu sou aquilo a que tudo se opõe. Mas, se eu não existisse, nada existiria, porque não havia a que opor-se."

Nunca tinha lido nada de Fernando Pessoa, até que comprei a HQ  A Vida Oculta de Fernando Pessoa, tem entrevista com autores aqui, e comecei a procurar mais sobre as obras dele. Ele é conhecido principalmente por seus poemas, escrito por vários heterónimos, mas também foi um grande tradutor.



Como não gosto muito de ler um livro só de poesias, achei alguns contos de sua autoria para esse desafio. Vamos ao livro então!

O conto que mais me agradou dessa coletânea foi justamente o que dá nome ao livro, "A Hora do Diabo". Nele uma senhora sonha com o Diabo e eles conversam sobre Deus. É um texto bem reflexivo e a linguagem não chega a ser difícil, me lembrou Poe um pouco menos rebuscado.

Nesse livro são 7 contos que não se interligam e de gêneros variados, indo de filosofia com o Diabo até uma discussão política em uma farmácia. Alguns contos eu sinceramente não gostei, principalmente os que tinham política, achei meio confuso, um deles fala sobre o Golpe do Generais de 18/04/1925 em Portugal que eu não conhecia, então fiquei meio perdida.

Não sei se foi impressão mas lendo o #Desafio12MesesDePoe achei esses contos a cara de Poe em seus textos mais "estudiosos" como o "Demônio da Perversidade" e "A Revelação Mesmeriana".

Bem indico pra quem gosta de contos, e quem quer conhecer bons autores portugueses e que nunca leram Fernando Pessoa.

— Eu sou de facto o Diabo. Não se assuste, porém, porque eu sou realmente o Diabo, e por isso não faço mal. Certos imitadores meus, na terra e acima da terra, são perigosos, como todos os plagiários, porque não conhecem o segredo da minha maneira de ser. Shakespeare, que inspirei muitas vezes, fez-me justiça: disse que eu era um cavalheiro. Por isso esteja descansada. Na minha companhia está bem. Sou incapaz de uma palavra, de um gesto, que ofenda uma senhora. Quando assim não fosse da minha própria natureza, obrigava-me o Shakespeare a sê-lo. Mas, realmente, não era preciso.