(Resenha) #22 O Cortiço - Aluísio Azevedo

O Cortiço
Aluísio Azevedo
Drama
Desafio #22 Livo que Deveria Ter Lido na Escola e Não Leu.

Olá pessoal, mais um tema espinhoso no nosso Desafio, normalmente os livros que devemos ler já nos causa aquele sentimento de revolta, nada do que somos obrigados a ler é legal, na maioria das vezes já começamos a ler com certa má vontade e perdemos histórias que podem ser muito boas.

Eu deixei de ler dois livros, e escolhi O Cortiço, porque é um livro que queria ler, estava gostando da história e principalmente da narrativa, mas como disse la na Revelação, tenho alergia a certos papéis, e os dois volumes que peguei teve o mesmo problema, acabei desistindo, lendo uma outra coisa, depois outra e assim esqueci do livro, até que o Desafio me lembrou, e, emfim, vamos terminar essa leitura.

"E o fato é que aquelas três casinhas, tão engenhosamente construídas, foram o ponto de partida do grande cortiço de São Romão"

O livro começa mostrando como o português unha de fome, João Romão, conseguiu construir uma 'estalagem', onde ele alugava casebres e tinas para roupa, também conhecemos Miranda, outro português, que se muda no sobrado ao lado do cortiço de João Romão, e a rivalidade que eles tem. Depois começamos a conhecer o cortiço e sua fervilhante vida, formada principalmente das lavadeiras e seus maridos, quase todos trabalhando na pedreira do próprio João Romão, que também vende tudo que eles precisam.

O cortiço é bem eclético, acolhendo brasileiros pobres, portugueses desiludidos e empobrecidos, italianos imigrantes, todo tipo de pessoas, idosos à bebês, se amontoam em animados choradinhos, defendendo a 'bandeira' de seu cortiço contra o cortiço rival, o se protegendo uns contra os outros em querelas que sempre surge quando se junta tanta gente.

"... E continuou a sorrir, desvanecida na sua superioridade sobre o outro sexo, vaidoso e fanfarrão, que se julga senhor e que, no entanto, fora posto no mundo simplesmente para servir ao feminino; ..."

O livro é um marco do Naturalismo da literatura brasileira, e como tal possui algumas característica bem marcantes do movimento como o Ambiente restrito como microcosmo de toda a sociedade que é o próprio cortiço, a Preferência por grupos humanos marginalizados, as Patologias sociais (prostituição, traição, incesto) e Animalização dos personagens, aqui nós vemos esses seres humanos como animais mesmo, é tudo tão visceral, fisiológico, que acho que pode até incomodar um pouco os mais sensíveis, pois não tem muito floreio, a violência de machos brigando pela fêmea, os xingamentos, coisas que fazemos (ou ao menos pensamos) mas não estamos muito acostumados a ler ou ver em filmes/séries (tirando o Tarantino XD)

O personagens são incríveis, temos tantos além dos já citados João Romão e Miranda, e todos tem seu momentos de brilho, alguns mais que outros, mas todos são tratados com carinho pelo autor. Rita é uma das personagens que desencadeia diversos acontecimentos no cortiço, ela me lembrou um pouco uma personagem de Jorge Amado, uma mulata linda e espevitada que deixa um rastro de homens babando pelo caminho. Jerônimo, um português sério e forte que vem tentar a vida no Brasil com sua mulher, e aos poucos vai se abrasileirando. Pombinha uma doce e pura mocinha que está sempre ajudando os pobres moradores do cortiço. A Bruxa sempre aprontando. Bertoleza a pobre negra que sempre ajudou João trabalhando feito escrava. É muito personagem e eu amei o jeito que Aluísio cuidou de cada um, mesmo sem focar em nenhum porque o verdadeiro personagem é o Cortiço, e como, no final das contas, nós, humanos, nos adaptamos a qualquer situação para sobreviver, por mais triste que seja.

"O português abrasileirou-se para sempre; fez-se preguiçoso, amigos da extravagâncias e dos abusos, luxurioso e ciumento; fora-se-lhe de vez o espirito da economia e da ordem; perdeu a esperança de enriquecer, e deu-se todo, todo inteiro, à felicidade de possuir a mulata e ser possuído só por ela, só ela, e mais ninguém." 

Amei a escrita, foi muito fácil e gostosa, algumas partes muito tocantes, outras causavam uma certa repulsa, outras risos, o livro não te deixa quieto, é uma montanha russa de emoções, eu realmente me interessei pelo destino de todos os personagens, algumas pessoas recamaram do excesso de descrições, eu simplesmente não notei isso, achei na medida, outra coisa que pode incomodar são os adjetivos pouco utilizados ou esquecidos hoje em dia, que para falar a verdade eu até gosto. E por fim, o Fim, que pode ser meio frustrante, mas eu entendo a escolha do autor.

Indico para todos, acho que é um retrato muito verdadeiro do século XIX, e porque não, do nosso também, muita coisa não mudou de lá para cá, muitos falam que os cortiços de antigamente eram a semente de nossas favelas de hoje.