(Resenha) #24 Cartas a Théo

Título: Cartas a Théo
Gênero: memórias
Desafio #24 Livro de Memórias
Apesar de gostar muito de alguns quadros de Van Gogh, nunca tinha ido tão fundo para conhecer a sua história, quando encontrei esse livro procurando algum que se enquadrasse no tema do desafio, não tive dúvidas, coloquei na minha listinha.

"Mas pode ser que, depois que tudo pareça ter dado errado, de repente tudo comece a melhorar. Não conto com isto, talvez isto nunca aconteça, mas no caso de acontecer alguma mudança para melhor, computaria isto como um ganho, ficaria contente, e diria: “Enfim, afinal havia alguma coisa”."

Vincent Willem Van Gogh nasceu em 1853 e morreu em 1890. Essa edição é um apanhado das mais de 900 cartas que Vincent escreveu ao seu irmão Théo, sem contar as que ele escreveu a Gauguin, a Van Rappard (que também viraram livro) e vários outros.

Vincent que grande parte da sua vida de artista viveu sozinho, as cartas foram uma forma de se comunicar com seu irmão e também pedir a ele dinheiro e materiais para suas telas.  Antes de se dedicar exclusivamente a arte Vincent queria ser pastor, assim como seu pai Theodore, as primeiras cartas desse livro Vincent coloca muita fé e sermões em suas palavras, sua dedicação surpreende, mas ele não tem o dom da evangelização, ele perde a fé e vive uma vida de vagabundo.

"A partir do momento em que nos esforcemos em viver sinceramente, tudo irá bem, mesmo que tenhamos inevitavelmente que passar por aflições sinceras e verdadeiras desilusões; cometeremos provavelmente também pesados erros e cumpriremos más ações, mas é verdade que é preferível ter o espírito ardente, por mais que tenhamos que cometer mais erros, do que ser mesquinho e demasiado prudente. É bom amar tanto quanto possamos, pois nisso consiste a verdadeira força, e aquele que ama muito realiza grandes coisas e é capaz, e o que se faz por amor está bem feito."

Théo, que era um negociador de artes, incentiva ele a voltar a desenhar, e é o que Vincent faz. Nessa época ele já estava com 29 anos e sua "carreira de artista" que dura apenas 8 anos, chega a produzir mais de 800 quadros, algumas obras chegam a ter 3 versões, como seu quarto em Arles, além do desenhos em papel e estudos. Nas cartas desse período, Vincent escreve muito sobre pintores, seus estudos, cores e as vezes sobre suas dificuldades. Eu que também gosto de arte, marquei muitas partes do livro com dicas, foi um conteúdo preciosíssimo pra mim.

Retrato do Dr. Gachet, vendido por cerca de 
8,2 milhões de dólares em 1990

 “Agora sinto que meus quadros não são suficientemente bons para compensar as vantagens que aproveitei através de ti. Mas acredite-me, se um dia eles forem suficientemente bons, você terá sido também seu criador, tanto quanto eu, porque nós os estamos fazendo juntos.”

Vincent tinha uma enorme dívida com o irmão e isso muitas vezes o afligia, há episódios onde ele acredita que o irmão não se dedica em vender seus quadros, o que acaba causando atrito em toda a família.

Depois da sua briga com o pintor e amigo Gauguin, ele acabou cortando a própria orelha, o clima das cartas mudam novamente, Vincent se assume como louco e escreve muitas reclamações. Nessa fase temos as pinturas mais sensitivas até a sua morte.

No livro, temos relato do próprio Gauguin contanto sobre como era os Van Gogh, pra ele ambos eram loucos, confesso que durante a leitura não senti tanta simpatia por Vincent e senti muita pena de Théo. Aliás precisamos falar sobre Théo. Como esse livro contém apenas as cartas de Vincent, não conhecemos muito o outro lado, o porque de tamanha dedicação ao irmão e de tantos desenhos nenhum retrato, após o suicídio do irmão, Théo ficou gravemente doente e também morreu um ano depois, Joanna Bonger, sua mulher deu continuidade na divulgação das obras do cunhado assim como a preservação das cartas.

Vinhedo Vermelho, 
o único quadro que o autor
 vendeu em vida

"Saiba que eu prefiro abandonar minha pintura, que ver você se matar para ganhar dinheiro. Claro, precisamos dele, mas chegamos ao ponto de ter que procurá-lo tão longe? Você percebe muito bem que “preparar-se para a morte”, ideia cristã (felizmente para ele, o próprio Cristo não partilhava dela nem um pouco, ao que me parece – ele, que amava as pessoas e as coisas daqui debaixo mais do que devia, segundo as pessoas que não viam nele mais que um maluco), se você percebe tão bem que se preparar para a morte é coisa com a qual não devemos nos importar, não percebe igualmente que a abnegação, viver para os outros, é um erro se implicar em suicídio, já que neste caso na verdade transformamos em assassinos os nossos amigos?"

Gostei muito da história desse grande mestre. O livro tem uma introdução com uma breve biografia, depois vem as cartas e no final uma linha do tempo desde o nascimento do pai até a venda do retrato de Dr. Gachet, uma lista dos vários nomes citados e o glossário. Minha única critica é quanto as cartas, que são muito editadas, nem todas as cartas tem datas apenas quando muda alguns períodos para entender 100% tem que ficar indo e voltando na biografia e cronologia, mas no final de todas tem um número que se refere ao número da carta.

Separei aqui alguns links pra quem quiser conhecer mais a História dos Van Gogh.

Vangogh Letters - Link do site com todas as cartas que Vincent escreveu ao seu irmão, na íntegra, com alguns esboços de desenhos e curiosidades  (em inglês).

Galeria e também tem as cartas não apenas para Théo, mas a mãe, irmã e as respostas do irmão.

Mais livros para conhecer a história de Van Gogh.

Van Gogh - A vida, Naifeh e Smith
Amparados pela mais ampla documentação já reunida sobre Van Gogh, Naifeh e Smith orientam o leitor com segurança através do intrincado labirinto de referências estéticas, literárias e religiosas que definiu sua curta existência. Desse modo, diversas imprecisões, bem como mitos há muito estabelecidos na fortuna crítica vangoghiana, são esclarecidos com sensibilidade humana e artística.

Sede de Viver - A vida trágica de Van Gogh, Irving Stone
Biografia de um dos maiores gênios da pintura que já existiu: Vincent Van Gogh, o livro deu origem ao filme homônimo de 1956.

Vincent, Barbara Stok
Vencedora do Prêmio Holandês de Melhor Autor de HQ 2009
“Stok retrata de forma brilhante e cheia de compaixão o artista ora num surto de loucura, ora sentado em meio aos trigais e girassóis de Arles, com a paisagem a um só tempo suave e alheia, e o homem impulsionado por uma paixão desesperada e radical.”
-The Guardian

Filmes

Existe vários filmes sobre Vincent, mas estou aguardando ansiosamente por esse filme, o trailer está lindo, cada frame é literalmente uma pintura. Loving Vincent (previsão segundo semestre de 2016)

Por fim,  o quadro dele que mais gosto é Noite Estrelada, pintado no hospício em Saint-Rémy, e fiz humilde versão para o quadro em aquarela e tinta acrílica, para o nosso Ilustrado livros.

Bem, eu indico esse livro pra todos os amantes da arte, gostando ou não do seu estilo de pintura.