(Resenha) #9 Fim

Fim
Fernanda Torres
Drama
Companhia das Letras

Olá pessoal! Hoje vou falar um pouco desse livro sobre o tema que inevitavelmente chegará para todos, o FIM.

"— QUEM SERÁ O PRÓXIMO?"

Fernanda Torres é famosa como atriz, principalmente nas comédias, mas também atua na imprensa escrevendo  em colunas para jornais, e recentemente entrou para o mundo dos romancistas.

Já adianto que foi uma ótima estréia!

O livro conta a história de um grupo de cinco amigos que viveram no Rio de Janeiro nos anos 70, cada capitulo mostra o ponto de vista de um deles sobre a amizade amores e brigas. Ahhh, todos os amigos morrem, isso não é spoiler.

"Falei muito mal das mulheres, elas merecem. Os homens também não prestam para
nada. E um não foi feito para o outro."
- Álvaro, pag 17

A história começa com Álvaro que foi o último a morrer em 30 de abril de 2014 com 85 anos, morreu atropelado na porta do condomínio onde viva sozinho, sua filha única morava em outra cidade com o marido e já havia se separado de Irene a algum tempo. Ele era o "broxa" da turma, esse foi um dos motivos para sua separação. Irene era amiga de Ruth, mulher de Ciro, ela que arranjou o casório, mas no final nunca sentiu amor por Álvaro.

Seu capítulo é narrado em primeira pessoa como se ele estivesse conversando consigo mesmo, numa leitura dinâmica e cheia de interrupções, com ele lembrando do passado ao mesmo tempo que narranda o presente. Álvaro é amargo, e desiludido, não acredita mais no amor.

Depois temos a história de Silvio, que morreu em 20 de fevereiro de 2009, no carnaval, com 76 anos. Foi achado drogado com um lança perfume e cocaína no bolso. Era casado com Norma, mas não aguentou o casamento e também se separou. Se mandou para o sul, mas antes fez uma festa de despedida, juntou os 5, e fizeram uma orgia, Silvio achava que isso ia ensinar a eles a viver e a curar o Álvaro da impotência, o Neto da monogamia, e o Ribeiro da infantilidade, mas o plano não saiu como previsto.

Silvio é típico cara que bebe todas, não está nem aí pra coisa alguma, um canalha nato.

Ribeiro morreu no dia 13 de novembro de 2013, com 80 anos, não se casou, não tinha muita sorte no amor, gostava de Suzana mas ela tinha uma caso com do Silvio e ele nunca perdoou os dois por isso, e amava Ruth, que só tinha olhos para o Ciro e depois, que enlouqueceu, e não tinha mais olhos para ninguém. Mas ter "casos" para ele era o suficiente, mesmo velho queria preservar sua masculinidade.

Ribeiro era mesmo infantil, ficou de mal de todos os amigos e não conseguiu se declarar, foi o que menos me interessei.

Neto, morreu no dia 30 de abril de 1992, com 63 anos. Foi o único que não se separou, era casado com Célia, os dois brigavam bastante, mas logo faziam as pazes, já tinham se acostumado a isso, pelo menos ele. Quando Célia morreu, Neto perdeu o rumo, não tinha mais ânimo para fazer nada, ficou sem chão. Não passou muito tempo ele foi ao seu encontro, achou que não poderia mais viver sem ela, mas talvez ele conseguisse sim...

No capítulo do Neto tem uma pitada de misticismo. O amor no convívio, a dependência e o medo de ficar sozinho, em todas as histórias não há muita esperança no casamento.

Por fim temos o Ciro, morreu no dia 04 de agosto de 1990 com 50 anos. Nem o câncer conseguiu acabar com a sua virilidade. Sempre foi um conquistador, achou que a paixão a primeira vista que sentiu por Ruth ia apagar o seu fogo, até que apagou por uns 10 anos, mas Ruth passou de amante para dona de casa, mãe e companheira. O tesão acabou e as brigas começaram, Ciro enlouqueceu e começou a trair sua mulher, e ela também enlouqueceu, os dois se separam, e só o que restou para ele foram suas enfermeiras.

O Ciro, ah o Ciro, o conquistador, acho que esse tipo é mais típico por aí, que não gosta de compromisso, rotina, aconchego, devo dizer canalha também.

Quero também falar um personagem que aparece bastante no livro, o Padre Graça, responsável por cuidar do funeral de pelo menos dois dos mortos, Álvaro e Ciro, ele já estava cansado, achava que já não se adequava ao cargo, já estava a 24 anos nessa função, gostaria de poder celebrar casamentos e batizados.

Em todas as histórias algumas histórias se unem e se chocam, cada um contando a sua própria versão do ocorrido. Foi uma leitura muito gostosa, incrível como podemos entrar nesse universo masculino sem censuras e fantasias.

A capa é um charme a parte, achei de muito bom gosto.

Indico para todo mundo que conhece a Fernanda Torres, e para todos que gostam de ler, Luís Fernando Veríssimo, João Ubaldo Ribeiro e Nelson Rodrigues.