(Resenha) #16 O Quinto Mandamento

O Quinto Mandamento

Ilana Casoy
Não-ficção

Editora Ediouro

Para o desafio de Ler um Livro Baseado em Fatos Reais li esse livro de uma autora que tive a oportunidade de ler pela primeira vez nesse começo de ano e me apaixonei. Mas fiquei um pouco em dúvida se seria um bom livro para o tema já que não é uma romantização de um fato, como foi em outros livros baseados em fatos reais que já li e sim um relato mais, vamos dizer assim, jornalístico, dos fatos, quase técnico para falar a verdade, mas estava tão curiosa, especialmente por causa da autora que decidi que ia ler esse mesmo.

"Tenho de confessar que o parricídio e matricídio sempre me confundem e espantam. As culturas dos países são diversificadas, os valores éticos e morais, também, mas a inatingibilidade de pai e mãe é universal. Não existe lugar no mundo em que eles não sejam sagrados."

Nesse livro Ilana conta que decidiu acompanhar esse caso quase que por acaso, ela havia comprado um livro sobre Casos de Família, o que à fez acompanhar mais de perto, o que ela não contava é que seus leitores a pressionassem a relatar esse caso em meio à vários outros que ela acompanha. Então Ilana foi até seus contatos na Polícia Técnica-Científica para se inteirar do caso que já tomava a mídia como um furacão, esse livro é o relato de todos os fatos apurados pela policia do Caso Suzane Von Richtofen e os Irmãos Cravinhos.

O Caso todos já devem conhecer, mesmo já se passando 14 anos do ocorrido, Suzanne adora parecer nas notícias por causa de algum comportamento excêntrico, mas em todo caso vamos relembrar um pouco. No dia 30 de outubro os irmãos Daniel e Cristian Cravo  mataram o casal de ricaços Marísia e Manfred Albert von Richthofen, pais da  facilitadora  Suzane von Richthofen que era namorada de Daniel, logo após o trio fez com que parecesse um roubo, mas o comportamento dos namorados era tão bizarro que logo chamou a atenção...

"A análise do local do crime é uma combinação de conhecimentos criminalísticos e criminológicos. A criminalística é a aplicação da ciência nas evidências físicas, como manchas de sangue, DNA e trajetória de projéteis. A criminologia inclui um ângulo mais psicológico, que envolve a procura de motivos, características pessoais do assassino e comportamentos que possam ajudar na interpretação de evidências."

O livro tem uma pegada mais técnica, por assim se dizer, mostra os policiais e suas diversas diligências, a colheita de provas, laudos, depoimentos das testemunhas e suspeitos, mas tudo de uma forma simples, sem aqueles termos técnicos inteligíveis, e mesmo quando não dá para fugir temos rodapés, que para mim foi um show a parte, com informações realmente relevantes. É realmente muito interessante ver as pequenas coisas que a pericia e os delegados notam, como um jarro de água ao lado da cama das vitimas e reparar as discrepâncias nas histórias contadas em meio a tantos depoimentos.

Ilana Casoy já era famosa por seus livros Serial Killers: Louco ou Cruel e Serial Killers: Made in Brazil, onde ela trata mais do sentido psicológico que é feito pelo profile, nesse livro temos uma visão mais geral da investigação, mesmo a pergunta que não quer calar: "Por que uma moça rica, que estudava nas melhores escolas e poderia ter tudo na vida fez algo tão horrível assim?" rondando o livro todo, nós acompanhamos mais as provas físicas e os depoimentos colhidos pela policia.

"Definir a hora da morte de maneira formal é uma questão bem mais complicada. Nos EUA, onde o médico-legista sempre faz parte das equipes de perícia de local de crime, a temperatura do corpo da vítima é medida por meio da inserção de um termômetro especial no fígado. O médico faz uma pequena incisão cirúrgica no local correto de acesso e a resposta é muito precisa, uma vez que esse é o órgão mais irrigado do corpo humano e o que sofre menos interferência de temperatura ambiente e transporte. Numa viatura que atravessa a cidade sob 35°C de temperatura ambiente, a temperatura do cadáver sofre modificações inevitáveis. No Brasil, o trabalho de estabelecer a provável hora da morte oficial é de responsabilidade do médico-legista e só é feito quando o corpo chegar ao IML, decorridas horas e horas do crime. Aqui se mede a temperatura retal, menos precisa, mas ainda utilizada em muitos lugares do mundo."

Mesmo o livro sendo mais técnico do que eu imaginei que seria, gostei demais do livro, fiquei sabendo de muita coisa interessante, como conhecer os vários núcleos que compõem o IML como o Núcleo de Toxicologia Forense que verifica venenos, substancias psicoativas, metais pesados. O Núcleo de Odontologia Forense onde pode-se determinar idade, lesões em que a vitima foi mordida por seu algos. A Sexologia Forense, Biologia Forense entre outros. Também temos algumas comparações entre o que é feito aqui no Brasil e lá nos USA. Ai gente, tem tanta coisa interessante que fica até difícil relatar tudo que eu quero.

A Ilana só participa de verdade na reconstituição, que por sinal virou um circo, com direito à helicóptero sobrevoando ao vivo, uma aberração, mas é claro que a gente adora essas coisas, por que será né? As vezes me pergunto. Ilana dá um puxãozinho de orelha em nós, curiosos, falando que um dos delegados que estava no Caso Von Richthofen não estava na reconstituição poque foi atender um outro caso em que um filho matou o pai, mas a imprensa não estava nem aí, já que o crime foi na periferia. Penso eu que o caso não da periferia não chamou a atenção porque temos a mania de perdoar os pobres com a famosa frase "O Coitado só fez isso porque a Sociedade não deu suporte a ele", mas e a Suzane que era rica e cheia de suportes, acho que por isso ficamos tão curiosos, só queríamos saber porque...

Bom gente, o livro vale a pena, especialmente se você é fã de séries como CSI, Criminal Minds entre outras séries com foco investigativo.