segunda-feira, maio 9

(Resenha) #16 O Último Trem de Hiroshima

O Último Trem de Hiroshima
Charles Pelegrino
Editora Leya
História, Não ficção
"Como, Kenshi se perguntava, ele contaria aos pais de Setsuko o que tinha acontecido com ela? Ele não conseguia pensar em mais nada. Não sabia ainda que logo teria muito mais em que pensar. Podia-se dizer que seu encontro com a História nesses dois últimos dias tinha sido apenas o crepúsculo antes do amanhecer. Kenshi Hirata chegaria à estação Koi com tempo de sobra; e às 3h da tarde de 8 de agosto ele começaria a viagem para levar os ossos de Setsuko à casa dos pais, a bordo do último trem para Nagasaki."
Charles Pellegrimo resgata a história sobre os bombardeios de Hiroshima e Nagazaki (Urakami), que foram totalmente maquiadas e censuradas pelo General americano MacArthur, e 55 anos depois da tragédia podemos conhecer muitas das histórias dos sobreviventes e de todos que viveram aquele "inferno" inclusive com depoimento dos aviadores Americanos que lançaram as bombas, Little Boy e Fat Man

A bordo do trem de Hiroshima com destino a Nagazaki no dia 08/08/45 tinha pelo menos 30 pessoas, muitas delas morreram, mas as que sobreviveram teriam que vivenciar novamente uma bomba atômica. Kenshi Hirata conseguiu, recém casado, quando a bomba atingiu Hiroshima ele escuta uma voz pedindo que ele se abaixasse, essa voz que ele julgou ser a de sua esposa que não sobreviveu, depois do pikadon (clarão e barulho) ele foi a sua procura, escavou os escombros de sua casa e achou o que sobrou dela, apenas pó, não sabia ele que quando chegasse a cidade de sua mulher em Nagazaki seu esforço teria sido em vão. Tsutomu Yamaguchi também, ele foi o único sobrevivente das duas bombas no ground zero, na época estava com 29 anos. Descobriu que estava com câncer a um ano antes de morrer, com seus 93 anos.

O livro é histórico, por isso tem muitos detalhes técnicos, a história é contada como aconteceu, mas não é linear com um livro de história comum, ele conta sobre os personagens aos poucos indo e voltando, revesando entre tantos outros, e pra mim isso deixou o livro com jeito de romance, o que fez a leitura ser muito prazerosa.

Além dos duplos sobreviventes conhecemos a história de Sadako Sasaki, a garota dos 1000 tsurus, foi pra mim a parte mais triste do livro (sou uma chorona) e Paul Nagai, um médico que depois do incidente resolveu dedicar o restante de sua vida a iluminação, ambos com a mensagem de Pensar mais nos outro antes de você mesmo. (Omoiyari e Nyokodo).

Mas já digo, ele é forte, algumas partes me deu muita aflição, ainda mais por saber que tudo aquilo foi real. Como o próprio autor escreve "Se as bombas atômicas deveriam ou não ter sido detonadas sobre Hiroshima e Nagazaki é um assunto para outra época e outras pessoas debaterem." É impossível não se questionar, Por que? Por que bombas atômicas? Por que no Japão? Por que foram lançadas em áreas com tantas escolas? Por que o Ministro da Gerra Japonês não queria se render e demorarem tanto para soltar o pronunciamento de rendição feito pelo Imperador? Por que os sobreviventes que tinham que fingir e fujir da história para poderem viver normalmente e não serem considerados hibakusha (pessoas afetadas pela bomba)? Porque Pear Habor e o genocídio foram amplamente divulgados e aconteceram na mesma época? e Por que esse crime de Guerra nunca foi julgado?

Talvez essa seja um boa resposta para acalmar o coração:
Masahiro Sasaki disse. "A pior maneira de começar é nos chamarmos de vítimas. Para dizer 'vítima' é preciso haver um vitimizador, e o vitimizador leva a culpa; e assim começa o ciclo de culpa. Por exemplo, se dissermos 'vítima de Hiroshima', a próxima frase que aparecer vai envolver Pearl Harbor e a cadeia de culpa fica presa em acontecimentos do passado. Assim, somos completamente desviados da ideia de que a guerra em si é a Pandora da humanidade, e que as armas nucleares são algo que surgiu da caixa de Pandora."
Esse livro foi recolhido das bancas americanas quando foi descoberto que um entrevistado mentiu em seu depoimento, o que levou a uma série de controvérsias, o que obrigou uma revisão total da obra e um prefácio especial do autor contando todo o caso. O diretor James Cameron comprou os direitos de adaptação do livro e defendeu muito Chales no caso, aliás outros livros de Pellegrino foram usados pelo diretor em seus filmes como o clássico  Titanic (Ghosts of the Titanic)



Uma coisa que gostei bastante foram as referências, principalmente as bibliográficas. Entre elas Gen Pés Descalços, escrito e ilustrado por Kenji Nakazawa, que aos seus 7 anos foi queimado em Hiroshima.

O Bestseller Hiroshima de John Hersey, escrito um ano após os bombardeios e em 2002 acrescentado um último capitulo. Uma curiosidade sobre esse livro é que devido o seu sucesso e evitar um "Nagaki" a censura  se elevou, assim a cidade que foi atingida por uma bomba 3x maior foi ignorada. Outra curiosidade é que as bombas foram lançadas no distrito de Urakami, uma má condição atmosférica salvou grande parte de Nagazaki onde de fato era o alvo. Assim Nagazaki foi computada com menos mortes e Urakami entrou para a sombra da História.
Voltando as biografias temos o primeiro livro de Paul Nagai Os Sinos de Nagazaki (que foi alvo de uma campanha de difamação na época)

E James Clavell que foi prisioneiro de guerra e queria fazer as pazes com a História, escrevendo vários livros que mais tarde seriam conhecidos como Saga Asiática entre eles Xogum
"Tsutomu Yamaguchi era um homem que via a raiva e o ódio nos outros e tentava amenizá-los; via a ignorância e tentava substituí-la pela sabedoria, via o desespero se aproximar e tentava dar esperança aos que estivessem em seu caminho. Passei pouco tempo com o senhor Yamaguchi, mas ele provou que a duração de um encontro não é a medida de sua capacidade de ensinar. Se um homem que sobreviveu aos bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki pode sair de um horror daquela magnitude acreditando na nobreza básica da vida, então qualquer um de nós pode. Ensinando pelo exemplo, ele acreditava que, se mesmo uma fração da humanidade pudesse viver de acordo com apenas um simples mandamento — seja amável —, esse comportamento poderia se transmitir de pessoa a pessoa, como um vírus, e talvez pudesse acabar mudando a vida de alguém que, de outro modo, seria capaz de fazer algo horrível no futuro."
 Indico para quem gosta de livros históricos não didáticos, e pra quem preferir algum romance que tal algum dos citados acima?


13 comentários:

  1. Olá,
    Uau, amei a sua resenha, fiquei louca para ler o livro, tenho muito interesse em entender um pouco mais sobre a Segunda Guerra Mundial e acho que nunca li nenhum livro que fale sobre as cidades atingidas pelas bombas atômicas. Com certeza irá entrar para a minha lista.:)

    Beijos

    ResponderExcluir
  2. Oii Caroline, tudo bem?
    Realmente não sabia da existência deste livro e me interessei muito!! É um tema que raramente vejo sendo usado nos livros e isso me cativa a ler mais, sua resenha está ótima, gostei dos quotes também. Vai para a minha listinha.
    Beijinhos

    ResponderExcluir
  3. Oi!
    Nossa... Parece ser lago bem forte mesmo! Conteúdo histórico sempre me deixa com uma certa preguiça, mas é muito bom pois a gente entra em contato com o tempo em questão diretamente!
    Abraço!

    ResponderExcluir
  4. Oie!
    Não sei se faria a leitura desse livro, pois é um período da história que me faz sofrer muito. Sempre fico com aquele mal estar quando fico imaginando a quantidade de pessoas que morreram nesse dia, e por isso não gosto muito de livros da época :(
    Bjks!
    Histórias sem Fim

    ResponderExcluir
  5. Olá!

    Quero! Adoro relatos biográficos, ainda mais com um tema tão polêmico... Sabe o que é pior de tudo? É que os EUA jamais pediram desculpas por isso. E os americanos ainda hoje acham que foi certo o ataque. Obrigada pelo texto!

    ResponderExcluir
  6. Nossa,
    Eu ainda não conhecia mas gosto muito desse gênero ou de livros com essa temática Achei muito interessante e fiquei super curiosa para ler também. Deve ser algo intenso acompanhar esse livro.

    ResponderExcluir
  7. Gostei bastante da sua resenha, Caroline. Talvez seja um livro de leitura meio lenta por ser mais histórico, mas desperta tanta curiosidade que dá vontade de ler, mesmo que num tempo diferente ao que lemos os nossos livros de ficção.
    bjo
    www.viciadosemleitura.blog.br

    ResponderExcluir
  8. Oi , gostei bastante da resenha . Quero muito ler esse livro , pois quando era mais nova ganhei um recital de poesia recitando a poesia a Rosa de Hiroshima , adorei e vou procurar esse livro ♥

    ResponderExcluir
  9. Oi!
    O livro não faz muito meu estilo.. Mas até que achei tudo bem interessante..
    quem sabe um dia eu arrisco..
    bjs

    ResponderExcluir
  10. Olá, gosto de livros do gênero, mas ultimamente tenho lido com pouca frequência. Adorei a resenha e já vou anotar a dica. Abraços

    ResponderExcluir
  11. até que fim uma resenha boa, de um livro bom, lerei com certeza, gostei muito.

    ResponderExcluir
  12. Uau!!!!

    resenha mais que maravilhosa!!!! Li esse livro na faculdade (História) e nunca tinha lido nenhuma resenha dele! me deu uma enorme vontade de reler!!!

    bjs

    ResponderExcluir
  13. Não é o meu estilo de livro, e essa coisa de ir contando aos poucos, indo e voltando em vários personagens me deixa meio perdida, acredita?
    Pela sua resenha, me pareceu ser um livro interessante e que merece uma chance de estar na lista de leituras.
    Beijinhos,
    Lica

    ResponderExcluir