(Halloween Nights) Quadrinhos de Horror

Esse ano decidi ler quadrinhos de horror durante as nossas Halloween Nights, então nada melhor do que nos debruçarmos um pouco sobre os primórdios do gênero nas HQs, e é sobre isso que vamos falar um pouco nos post de hoje.

É difícil traçar o começo das histórias em quadrinhos em si, e separar um gênero específico é ainda mais, por isso vou tentar me ater ao quadrinhos mais modernos, por assim dizer. Também gostaria de falar de mais quadrinhos ao redor do mundo, mas quanto mais pesquisava mais maluca eu ficava querendo falar de tudo e ai, meu bem, não ia dar para fazer em um post só.

Dito isso vamos lá!

Começando pelo Japão que tem uma cultura de quadrinhos que remonta 800, mas foi no fim 1800 que as Kaidan (histórias de assombrações japonesa) ficaram famosas. No Kaidan, e no folclore japonês mesmo, temos muitas histórias sobre a 'lei do retorno' o karma, e tendem a ser sobre a busca pela vingança, ou uma maldição causada por um evento de ódio. (Samurai X que é uma história de aventura, samurais e destinada a um publico adolescente, nada de terror aqui, também tem esse conceito em uma de suas falas sabemos porque sua cicatriz, que é em forma de X, é tão feia, foi feita pelo ódio).

O japonês é mestre no estilo horror, utilizando de vários conceitos com Psicológico,  Violência extrema, Erotismo, flertando abertamente com o Bizarro, um dos primeiros nomes do gênero no mangá propriamente dito foi Kazuo Umezu na década de 1950 e até mesmo Ozamu Tezuka, o pai e grande mestre do mangá já escreveu terror. O horror no mangá seguiu as estéticas do cinema, como a ficção cientifica dos anos 60, os filmes altamente erotizados dos anos 80, e assim vai.

No Brasil, o quadrinho horror japonês vem aparecendo aqui e acolá com os títulos, o Vampiro que Ri de Suehiro Maruo (uma obra bem contestadora, e que mostra o pior do ser humano), Delivery Service of Corpse de Eiji Otsuka (que mostra diversos casos de um grupo de médiuns e pesquisadores do sobrenatural) Panorama do Inferno de Hideohi Hino (pensa em um trem medonho), mas acho que o mais famoso ultimamente é Junji Ito, por causa da recente publicação da editora DarkSide.

A tradição européia de quadrinho é considerada por muitos uma coisa mais cabeça, uma das principais característica são o alto padrão de pesquisa e roteiro, a tradição de quadrinhos de terror também é forte, os dois maiores produtores são os Ingleses com Allan Moore que criou vários personagens como o Monstro do Pântano, que no começo era bem pavoroso, ele também tem obras que homenagearam Lovecraft ( um dos autores de terror mais cultuados na atualidade). E os italianos que tem uma série para lá de longeva com Dylan Dog.

Infelizmente achei pouca informação em português sobre os quadrinhos europeus, meu maior contato com eles é a partir de Graphic Novels, e posso dizer que as história é mesmo bem diferenciada.
Se alguém mostrar interesse traremos mais quadrinhos europeus para conhecerem.

O Brasil, é claro, não passou incólume pela produção de terror, que começou em 1947 com a chegada de um cartunista português, que já fazia sucesso em seu país com Espíritos Assassinos, mas foi na década de 60 que houve o boom do gênero por aqui, chegando a ter 30 títulos diferentes em banca.

Mas é lógico que os militares passaram a olhar tais obras com o nariz torto na década de 70, mesmo assim em 76 as revistas estrangeiras de horror desembarcaram bombando por nossas terras, mas já em 82 o movimento desacelerou e nas décadas seguintes apenas lançamentos esporádicos vem acontecendo.

É interessante notar que no Brasil a sensualidade também caminha de mãos dadas com o terror, e isso me lembra o grande ensaio de King, Dança Macabra, e o que ele fala sobre os Vampiros, a sedução do que é proibido. Outra coisa importante de notar é que o Brasil produziu muito horror, e produz até hoje, mas agora de forma mais independente, na web, ou em coletâneas como as da Editora Draco e DarkSide está trazendo dois quadrinhos nacionais, quem sabe a gente não vê mais.

Mas o mercado, vamos dizer assim, mais barulhento, das HQs de horror foram os Estados Unidos, lá o movimento propriamente dito começou na década de 20, eram revistas de entretenimento barato conhecidas como Weird Menace (ou ameaça estranha), e tinham mais a ver com crimes bizarros e suas investigações, e que com o tempo foi envolvendo coisas sobrenaturais com títulos como Dime Mystery, mas foi na década de 40 que os elementos de terror foram de fato introduzidos, começando com adaptações dos clássicos como Frankenstein, até a chegada da E.C. Comics e sua grande variedade de títulos entre eles o mais famoso Contos da Cripta.

E porque eu digo eu foi barulhento, por causa de um psiquiatra que associou os quadrinhos de Crime (termo que para ele abrangia do terror a super-heróis) a delinquência juvenil (na realidade, naquela todos liam quadrinhos, incluindo os delinquentes, seria como acusar uma novela global por atos irresponsáveis de alguns e querer proibi-las, oi impedir que ela trate de algum assunto específico).

“Os gibis de crime e terror são extremamente feios em aparência, causados pela mente diabolicamente distorcida de seus criadores... Assassinatos e tramas sórdidas... Algo deve ser feito... Por lei, se as editoras não censurarem corretamente o seu próprio trabalho”

por causa dessa imagem, este quadrinho só foi
publicado depois de uma longa luta jurídica que
terminou em um 'depois a gente o que faz'

O estrago foi feito, o Senado resolveu fazer audiências de 'linchamento' publico, gibis eram queimados ao melhor estilo nazista, e assim foi criado o Comics Code Authority, uma espécie de censura prévia, e palavras como Horror, Weider, não podia mais aparecer nos títulos, assim como diversos elementos considerados violentos, incluindo personagens Negros (sim você leu certo). O Código não era obrigatório, mas as revistas só poderiam ser anunciadas, e exibidas nas bancas se tivessem o selos deles (então era sim Obrigatório)

Esse evento acabou sendo um tiro fatal na E.C. Comics cujos principais títulos eram de horror, ou possuíam uma das palavras proibidas, e diversas bancas se recusam a vender as revistas mesmo com os títulos alterados com medos da 'patrulha'. Mas é claro que, como um zumbi, o mercado de terror continuou com revistas independentes e fanzines, e na década de 80, com a popularização dos quadrinhos adultos o terror voltou a vicejar, e foi justamente dois autores ingleses que deram esse novo start Allan Moore e O Monstro do Pântano e Neil Gaiman com Sandman, que tinham um pezinho também nos super-heróis, o Código ainda existia, mas já estava sendo relaxado, e muitas editoras nem enviavam mais seus títulos para lá. Até que em 2000 o código deixou de existir se tornando uma classificação etária.

Assim surgiu uma nova onda, não só de quadrinhos de horror e crime, como de qualquer outra coisa que não seja Super-heróis, e o sucesso de The Walking Dead, que surgiu como quadrinho em 2003, está aí para mostrar que essa nova onda ainda vai fazer muito sucesso, e talvez irritar muitos espíritos censores.

A E.C. Comics faliu, não conseguiu resistir a tamanha pressão, e apenas a revista M.A.D, que possui uma veia mais humorística sobreviveu, mas o legado da editora está aí, com filmes e séries sendo a mais famosa o Contos da Cripta. Sthephen King e George Romero lançaram um filme e quadrinho em homenagem a editora e seu título mais famoso que a DarkSide trouxe para nós, mas Creepshow para uma próxima vez.

Para finalizar vou deixar uns links de referência, porque o assunto, como disse lá no começo, é muito complexo e interessante, vale a pena dar uma olhada.

Universo HQ
A Série Sarjeta do Terror do site Dinamo
http://judao.com.br/primeira-morte-das-hqs-de-terror/
Ambrosia
Conhecimento Literatura
101 Horror Movies

Considerações finais, hoje se sabe que toda a guerra contra o horror, foi manipulada pelos que eram contra, dados foram exagerados e até mesmo inventados, para se criar um discurso. E a juventude delinquente? Melhorou depois da caça as bruxas? Não! nem um pouco!